No dia 26 de agosto de 2017 o jornal Diário de Pernambuco publicou tanto na versão impressa quanto na digital uma reportagem chamada Ouro rosa: As faces econômica, social e cultural da goiaba com o intuito de registrar a importância da produção da fruta para o estado de Pernambuco, tendo como foco os aspectos econômico, social e cultural.
O texto é do jornalista Ed Wanderley; as fotos e vídeo são de Rafael Martins. Os recursos de imagens são muito bem organizados e aproveitados ao longo da reportagem, o que permite uma leitura calma e dentro de uma margem agradável de tempo.
No início, o leitor é convidado à memória. A escrita em primeira pessoa permite uma aproximação e identificação: qual mão infantil não esteve tão satisfeita a um simples “puxavão” da fruta de uma goiabeira? Da reminiscência se faz o convite.
Para não cair em uma espiral de memórias e equilibrar certa pessoalidade a concretude do assunto, o jornalista apresenta com clareza e didatismo informações que reforçam a construção da mensagem que deseja transmitir. São mostrados números de pesquisas e iniciativas científicas que têm o objetivo de fortalecer a agricultura da goiaba. Além de serem realizadas entrevistas com agricultores, pesquisadores e empreendedores do ramo culinário que lidam com a fruta cotidianamente.
O aspecto econômico se faz presente no sentido de revelar a goiaba como uma pedra preciosa. A partir do título — Ouro rosa: As faces econômica, social e cultural da goiaba — entendemos como esse aspecto é importante para contribuir com o desenvolvimento regional associado ao cunho social e cultural. Nesse sentido, as camadas de valor do tema estão relacionadas, favorecendo uma concepção de imaginário cultural da goiaba.
Gráficos, ilustrações, fotografias, citações de entrevistas e um vídeo falando sobre a cultura da goiaba tornam a reportagem dinâmica e atrativa ao leitor. Referências da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) e IBGE são apresentadas com clareza.
É possível destacar às entrevistas de um professor doutor em Agronomia da Univasf e dois produtores de goiaba da região. No entanto, a entrevista do pesquisador é enfatizada, pois ressalta os avanços tecnológicos que podem ajudar no cultivo da fruta, registrando a potencialidade de uma técnica que fornece suplemento ao plantio da goiaba.
Eis que o repórter já não é a criança que corre com a fruta na mão. Ele puxa o leitor pela feira da cidade de Gravatá — sentimos o cheiro; ouvimos a música — para encontrar um personagem que a goiaba transformou a vida. Ali, também, a linguagem pretende mostrar o quanto a fruta faz diferença na vida das pessoas. Somos apresentados a “Beto”, esse homem que fala com experiência e segurança sobre os alimentos — doces e geleias — que produz a base da goiaba. A visão dele nos revela um olhar mais abrangente sobre a fruta. Um rapaz que encontrou na goiaba um meio de alimentar seu protagonismo, recheado pelo sentido de identidade que a goiaba exerce na cultura pernambucana.
Esse personagem exemplifica como o contexto cultural atinge o indivíduo. A fruta faz parte das práticas do cotidiano e não por acaso ela é escolhida como aquela que pode mudar vidas. Cultura, identidade e indivíduo estão à mesa — o personagem é a experiência prática do espaço que a goiaba ocupa no imaginário e na capacidade de reforçar a identidade, a cultura e o individuo pernambucano.
Nesse momento a matéria apresenta novos elementos voltados para a questão do empreendedorismo da cultura da goiaba, tomando novas fontes como base, o Sebrae e o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ). Aqui encontramos mais informações separadas e destacadas num quadro de infográfico, além de ser disponibilizado um manual de passo a passo para montagem de uma fábrica de doces e geleias. Seria o caso de apontar caminhos para aqueles que se sentirem inspirados pela história de “Beto”?
A goiaba se enraizou na culinária e faz parte de um “prato” que é patrimônio cultural imaterial de um estado. Enchem os olhos as imagens do bolo de rolo. O doce atiça o paladar. Um passeio através de um tradicional estabelecimento comercial da cidade do Recife pretende explicar como chega à mesa do mundo esse doce importante da culinária pernambucana, que carrega tradição, memória, identidade e cultura.
Nesse instante a narrativa mostra como a história do bolo está emaranhada à memória da proprietária do estabelecimento. É da receita da avó que nasce a contribuição, mesmo que não consciente, como deve ter sido para muitas outras famílias que fazem o doce, a construção de um patrimônio cultural imaterial do estado. Em um sentido mais amplo essa passagem exemplifica bem o significado cultural que a fruta atingiu por meio do bolo de rolo, que foi transmitido por gerações, se tornando patrimônio cultural imaterial e um dos símbolos pernambucanos.
Também é de se destacar o empenho do repórter em marcar sua subjetividade no texto, entregando linhas que reforçam a ideia de como o bolo de rolo representa um traço da identidade cultural do estado e de como esta é ligada a uma visita ao passado e a festividade, ou seja, a uma tradição revestida de celebração; uma tradição que precisa ser celebrada para que os ingredientes nativos sejam entendidos como algo indissociável da personalidade pernambucana, marcados e reconhecidos como pares da existência das pessoas.
Entre a subjetividade e a objetividade, o texto permite um entendimento sobre a importância da goiaba na tradição e na valorização da identidade de um povo. Uma fruta valiosa para a formação cultural de um estado e para nutrir a matéria de uma boa reportagem.
Leandro Pedrosa
A reportagem Ouro rosa: As faces econômica, social e cultural da goiaba está disponível em:
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