(Imagem: Raquel Catão / Edição: Maria Teixeira)
Nós somos irmãs. Irmãs se olham no olho, irmãs se ajudam, se acolhem… É isso que pregamos dentro do Baque Mulher, e assim passamos força uma para as outras.
Há mais de 10 anos, a recifense Joana Cavalcante – ou simplesmente Mestra Joana – fundou o Baque Mulher e fez história dentro do Maracatu de Baque Virado. Sendo a primeira mulher a liderar uma Nação de Maracatu, ela foi responsável por transportar o som do tambor do ”Encanto do Pina” para todo o Brasil e para o mundo. Além de ser símbolo da riqueza cultural pernambucana, o trabalho da Mestra ultrapassa barreiras sociais e leva empoderamento e educação para a periferia. Em entrevista ao Objorc, a Mestra Joana fala da sua trajetória, das dificuldades impostas pela pandemia aos grupos de maracatu, do trabalho na comunidade, além da falta de apoio para a manutenção dos grupos de cultura popular e a importância dessas realizações na manutenção e perpetuação das tradições, entre outros assuntos. Sua trajetória de persistência e superação a transformou em nome importante da representatividade feminina na cultura brasileira, sendo indicada recentemente ao Prêmio Inspirar 2021, na categoria “Coletivo”. Como se não bastasse tudo isso, ainda temos mais um pouco: de brinde, a Mestra Joana nos presenteia com seu cantar, entoando trechos de algumas loas de maracatu. Confira!
ObjorC — Em 2008 você assumiu a regência do baque da nação do maracatu Encanto do Pina ocupando o lugar do seu pai, Mestre Marcelo. Na época, vários batuqueiros homens abandonaram o coletivo, pois não aceitavam serem regidos por uma mulher. Como muitos diziam, “Mulher nasceu para rodar a saia”. Passados mais de dez anos, o que mudou em relação a essa situação estando a frente do Baque?
Mestra Joana Cavalcante — Quando eu assumi a nação eu não entendia, não conseguia identificar o que era machismo, o que era racismo… Naquele primeiro momento eu não dei importância ao fato dos ‘caras’ saírem, não quererem participar, não quererem entrar na nação. Com o passar do tempo foi que eu vim entender todas as formas de opressão, foi que eu vim entender o motivo dos batuqueiros não quererem serem regidos por mim. E daí começou minha militância, minha luta dentro das nações de maracatu. Por esse espaço que sempre foi negado a nós mulheres. Agora essa luta é cada vez mais sólida dentro das nações. A batalha é árdua, não é um mar de rosas, mas eu consegui impor o devido respeito, consegui mudar a realidade de muitas mulheres que viam esse espaço como uma coisa que nunca seria alcançado. Então, o que mudou hoje foi isso, ver mais mulheres na frente dos baques, mais mulheres se empoderando dentro dos maracatu nação, que a gente sabe que, assim como muitas outras manifestações, também traz e alimenta muito o machismo devido à educação patriarcal. A gente vem fazendo esse trabalho durante o longo desses anos e temos tido um resultado visivelmente bom nas nações, nos grupos de maracatu, no dia a dia da comunidade.
ObjorC — Você serve de inspiração para muitos desses jovens e crianças que vão se formando através das diversas atividades realizadas pelo Encanto do Pina. Para você, como surgiu essa influência e quais foram as primeiras referências para que você chegasse a ocupar esse lugar de destaque?
Mestra Joana Cavalcante — Foi tudo muito natural. A gente é criado dentro desse contexto periférico, onde esse diálogo não era comum. Só agora a gente tem entendimento, só agora a gente consegue dialogar com nossos jovens e nossas crianças sobre o que é machismo, o que é racismo, o que é empoderamento. Eu fui criada num contexto que não tinha isso, um contexto de que a mulher tem que servir ao homem, tem que ser boa cozinheira, tem que ser boa lavadeira; tudo isso para ter um bom marido que seja o seu grande salvador da pátria. O que é que a gente faz com todas essas informações [machismo, racismo, empoderamento] quando a gente passa a entender tudo isso? Como mudar toda essa realidade e ver tantas mulheres que são potências, que são exemplos de vida, e entender que essas mulheres nunca tiveram esse diálogo, mesmo que pratiquem essas lutas… Esses são meus grandes exemplos, as mães do Pina. Quando eu passei a entender todo esse contexto de opressão, de educação patriarcal, entendi mais ainda a importância dessas mulheres nas nossas vidas aqui dentro da comunidade e que esse é o caminho. Elas sempre foram meu exemplo porque são mães solteiras, ‘né’? Mães solo… Hoje é um nome bonitinho mas são mulheres que passaram toda sua vida, todo o seu tempo, se dedicando a agradar homens com medo do abandono, que resistiram, sobreviveram e sobrevivem com a dor da perda dos filhos para a violência; tanto a violência do poder público quanto a violência devido às drogas, ao abandono social. Então eu passei a identificar todo esse contexto dessas mulheres e elas passaram a ser meu exemplo nesse meu processo de aprendizado.
ObjorC — Nós conquistamos alguns avanços, alcançamos cargos de liderança em diversos segmentos da sociedade, mas ainda é necessário esse processo de reafirmação das mulheres enquanto líderes. Você ainda sente isso enquanto mestra de uma nação de Maracatu?
Mestra Joana Cavalcante — O tempo todo. Eu chego até a dizer que é uma luta árdua. O tempo todo tendo que falar: “é mestra, não Joana”. É um espaço que incomoda porque não é comum para nós mulheres. É uma quebra de tabu muito grande. Por exemplo, tem associação de maracatus que quando tem alguma roda de conversa, alguma reunião que estão todos os mestres e só eu de mulher, eu vejo se referirem aos homens como “mestres” ou “senhor”, e quando vêm falar comigo é “você”, “Joana”. É sempre colocado naquele espaço de “ah, aqui não é o teu lugar”. A todo tempo ter que estar reafirmando isso… Te confesso que é bem cansativo.
ObjorC — O Maracatu Baque Mulher tem mais de 31 grupos espalhados pelo Brasil, Argentina e Portugal também, certo?
Mestra Joana Cavalcante — Isso. Incluindo a Argentina e Portugal, são 42 grupos.
ObjorC — Para as mulheres, os espaços predominantemente masculinos podem gerar repressão, violências… Você exerce um papel de empoderamento feminino através do Baque Mulher. Como ocorre esse processo de resgate e olhar atento com as mulheres do grupo?
Mestra Joana Cavalcante — O Baque Mulher surgiu primeiramente com a ideia de ter um espaço para que nós mulheres pudéssemos tocar o nosso tambor sorrindo. Quando iniciou o movimento das mulheres poderem tocar dentro das nações, o processo era muito dolorido. Haviam olhares de reprovação, era um espaço que nós nunca fomos bem vindas. Então, eu sentia a necessidade que a gente pudesse tocar e sorrir, porque dentro das nações até disso nos privaram. Porque se a gente sorrisse uma para a outra, interpretavam como falta de atenção. Eu sempre fui muito inquieta, desde pequena. Em 1998, eu já tinha um grupo só de meninas que se juntavam para tocar percussão, já que a gente não podia tocar maracatu. Eu sabia que tinha que respeitar que a mulher não podia tocar, então a gente misturava, fazia vários ritmos. O grupo era “As filhas de Oxum Opará”, era muito percussivo. Então ‘cê’ vê que daí eu já venho com essa inquietação. Quando a gente passa a tocar nas nações, esse espaço é sempre hostil para nós mulheres, mesmo sendo um espaço liderado por nós. Porque [implicitamente] as nações sempre foram lideradas por grandes mulheres que não apareciam. Para você ter uma ideia do quanto era um espaço hostil, aqui na comunidade do Pina tem duas nações da qual eu sou mestre de uma, e a gente passou a não ensaiar ou fazer as reuniões do Baque Mulher aqui, fomos fazer no Recife Antigo porque a gente pôde ter um espaço, privacidade, um local nosso. Só após reunir as mulheres era que a gente parava para se ouvir, para dialogar. Desde o início, eu sempre fui muito exigente e não aceitava pitaco de ninguém porque a gente já tinha isso dentro do maracatu, eu não queria reproduzir dentro do Baque Mulher. A prioridade do Baque Mulher sempre foram as jovens e crianças da nossa comunidade; nesses espaços, foram surgindo as demandas, os relatos de abusos. E o que é que a gente faz com todas essas informações? O que é que a gente faz com essas demandas que vão chegando? Como lidar com a violência dentro de um espaço totalmente violento? Como eu ia combater isso dentro da periferia, da favela, sem pôr a minha vida e a vida da minha família em risco? Daí que veio a ideia de passar as nossas lutas para as loas [músicas cantadas e tocadas pelo Baque Mulher]. E aí, a gente desabrochou. Através da nossa luta, do nosso canto, passamos a militar dentro da comunidade também, afirmando para as mulheres que elas não eram obrigadas a apanhar, que em mulher não se bate, que quem bate não lhe ama. A partir disso, várias outras mulheres, de todo lugar do Brasil, que sempre vieram para o carnaval do Recife e acompanharam as nações, se identificaram com essa luta e foram levando para as suas cidades, pedindo autorização para reproduzir as loas, para trabalhar também dentro dos seus grupos percussivos. (…) Não é fácil, né?! A gente passa por várias perseguições; por exemplo, vários grupos de maracatus não querem que eu chegue perto deles de jeito nenhum… Sou ‘barrada‘ porque, se eu estiver lá, automaticamente eu ‘tô‘ levando a nossa militância enquanto mulheres e a gente sabe que há muitos espaços que ainda romantizam a opressão, a agressão… (…) Nosso intuito enquanto Baque Mulher é nos fortalecermos juntas. Tem uma palavrinha que é muito bonita, que é moda né (risos), que é ”sororidade”… Eu digo que é moda porque é tão falada mas pouco executada. Como eu sou do terreiro, do Candomblé, eu levo uma palavra mais tradicional que é irmandade… Nós somos irmãs. Irmãs se olham no olho, irmãs se ajudam, se acolhem… É isso que pregamos dentro do Baque Mulher, e assim passamos força uma para as outras.
ObjorC — Ainda pensando nessa quebra do sistema patriarcal e na importância da mulher ocupando esses espaços que antes não eram destinados a elas, nós gostaríamos de saber o que significa para você carregar o título de uma das maiores referências femininas dentro da cultura popular, sobretudo enquanto a primeira mulher a comandar uma nação de Maracatu?
Mestra Joana Cavalcante — Significa responsabilidade, muita responsabilidade. Por que ser referência não é fácil. Ser referência para os nossos filhos dentro de casa já não é fácil, imagina para todo um movimento que mexe com vidas, com seres humanos. É uma missão que, tenho certeza, foi dada pelos meus Orixás, pelas minhas entidades, e que eu levo com muito afinco, muito carinho e muita responsabilidade.
ObjorC — Você disse que foi criada no Candomblé. Pra você, mesmo trabalhando desde sempre com as questões da sua espiritualidade que já vêm de família e da sua ancestralidade, como você encara a discriminação pela sua crença?
Mestra Joana Cavalcante — Encaro combatendo. Educando nossos jovens e nossas crianças, porque eles são o nosso futuro. A gente criou o projeto ”Encantinho” direcionado para os jovens e crianças aqui da nossa comunidade. Nele, trabalhamos muito essa temática da intolerância, de exigir o respeito. É dessa forma que a gente combate, sabe? Se vier no diálogo, a gente vai no diálogo. Se vier na força, a gente vai na força. A gente combate de igual para igual e sempre trazendo e exigindo o que a gente dá, que é o respeito. Mas os tempos estão cada vez piores, com esse desgoverno, com esse ‘louco‘ no poder, tá cada vez pior. Os ‘loucos’ que estavam guardados no armário estão todos soltos é cada absurdo que a gente vê dia a dia…. A perseguição religiosa já era difícil, mas de dois anos para cá tem acontecido coisas absurdas. Eu tenho muito receio de uma guerra religiosa, muito.
ObjorC — Você mencionou agora o projeto ”Encantinho”… Ele tem a ver com o trabalho do Encanto do Pina, que se transformou em projeto social, com o desenvolvimento de uma série de atividades junto aos jovens e crianças da comunidade, com oficinas, capoeira, confecção de instrumentos, oficinas de percussão, reforço escolar… Isso não deixa de falar da cultura e da arte enquanto formação. Como é que você vivencia isso no dia-a-dia da comunidade diante, inclusive, desse contexto de intolerância que você nos traz?
Mestra Joana Cavalcante — Com muitas atividades sociopedagógicas e socioculturais, a gente busca trazer nossos jovens e crianças para perto da gente. O abandono social é muito. Nós também não temos nenhum apoio, nada; a gente faz tudo na luta e na raça. Nossa programação envolve atividades com o intuito de não deixar nossas crianças com tempo ocioso, porque o que [o mundo] tem a oferecer sem a assistência social? A vulnerabilidade. Então, a gente busca aqui ocupar o tempo dessas crianças. Tem um cronograma de domingo a domingo. “Ah mas como vocês conseguem? É muito cansativo”: Fazemos um cronograma rotativo de educadores e educadoras, onde todo mundo dá um pouquinho de si. Muitas crianças chegam aqui na sede, onde vão fazer a primeira refeição do dia, porque não têm em casa, essa é a nossa realidade… A gente busca mostrar para esses jovens e crianças que eles podem sim, serem protagonistas da própria história, que eles são importantes, que cada um deles tem um talento, que cada um deles tem a sua história a ser contada e a ser vivida. A gente busca mostrar que as oportunidades existem e que temos que correr atrás delas. Não tem sido fácil, mas a gente tem muitos exemplos positivos. Temos vários jovens e crianças dando oficina no Brasil inteiro. Temos várias pessoas nossas que conseguiram sair das periferias, adentrar também as faculdades através do Maracatu.
ObjorC — É possível estimar quantos jovens e crianças são atendidos pelo projeto?
Mestra Joana Cavalcante — Matriculados no momento temos cerca de 98, mas a gente atende 380 famílias na comunidade. Atendemos com assistência básica, com os atendimentos cotidianos… Gás, água, luz, remédio… A gente dá a assistência que podemos.
ObjorC — E nos projetos como um todo?
Mestra Joana Cavalcante — Nós movimentamos diretamente quase 600 pessoas. Mas no ‘geralzão’ a gente nunca consegue calcular, e também é muito rotativo. Tem gente que vai, tem gente que vem. A gente movimenta muitas pessoas. No carnaval, a gente coloca no desfile oficial no mínimo 1.500 pessoas.
ObjorC — Qual é a participação do poder público nessa história?
Mestra Joana Cavalcante — Para o carnaval a gente tem uma ajuda de custo, que é uma vergonha nacional, mas ainda conseguimos fazer alguma coisa. Para botar a nação na rua, eles dão uma subvenção de 16 mil reais, valor que é parcelado em duas vezes. Uma parcela três meses antes do carnaval, e outra seis meses depois. No decorrer do ano, com as demais atividades, nós sobrevivemos com campanha, com as oficinas que eu dou no Brasil e no mundo inteiro, além do apoio de batuqueiros e batuqueiras com rifas, bingos, enfim… Estamos na luta há três anos com a reforma da nossa sede e fazemos campanhas online. Paramos porque não conseguimos concluir, voltamos, paramos novamente… E é assim que vivemos.
ObjorC — Partindo um pouco pra questão de visibilidade, representatividade… Como é que você avalia a cobertura da mídia em relação ao seu trabalho? Você acha que existe a exata compreensão e divulgação do seu papel na manutenção e valorização da cultura?
Mestra Joana Cavalcante — Não, não… Deixa muito a desejar. Eu sempre falo: Só os grandes artistas, a classe elitizada, é quem tem uma grande visibilidade. Para nós, os povos de cultura popular, da periferia, isso é muito precário. Acontece uma vez ou outra, em alguma data comemorativa. ‘Vai vir‘ 20 de novembro aí, vai chegar o mês da consciência negra e aí as escolas chamam, aí tem uma pauta ali, outra pauta aqui… Passou isso? ‘Acabou-se’.
ObjorC — Recife como a gente conhece, tem todo um potencial, carrega o slogan “Pernambuco falando para o mundo” e mesmo assim tem artistas como você sendo ofuscados. Como você vê isso, sabendo que existe um potencial de fazer isso de forma diferente, sobretudo pensando na visibilidade que o seu trabalho leva ao estado.
Mestra Joana Cavalcante — Essa projeção é feita só para trazer turista, porque nós que trazemos turista para a cidade, a gente tem consciência disso. São os Maracatus, os frevos de rua, os caboclinhos, os afoxés. Os turistas vêm para aqui para ver isso. Aí o cache da gente numa apresentação de polo é 5.500 reais. Por que? Porque os grandes empresários não ganham ali e tudo envolve muito jogo de dinheiro. E como é que a gente faz? Nesse contexto, o que eles querem é o apagamento.
ObjorC — Trazendo essa questão do carnaval e das festividades… A gente sabe que para as nações de Maracatu, o carnaval não são só naqueles dias de festa, e sim o ano inteiro. Para o Encanto do Pina, qual foi o sentimento durante esse período de dois anos em que vocês não puderam fazer o carnaval acontecer o ano todo como de costume?
Luto, é um sentimento de luto total. A gente movimenta toda a comunidade, durante o ano inteiro, para aquele dia que é o domingo de carnaval. Tem uma simbologia muito grande para as nações de Maracatu de baque virado. O carnaval é espiritual, é ancestral, não é só o brincar. Para aquele momento a gente se prepara religiosamente, psicologicamente, fisicamente. É nesse momento que meu batuqueiro, que é pescador, que é pintor, está ali sendo assistido e mostrando sua arte, seu amor, sua dedicação. É para aquele momento que a gente se prepara dentro do nosso terreiro com nossos filhos, com nossas obrigações, nossas calungas, nossas bonecas. São todas as energias concentradas para aquele momento. Não ter carnaval, não ter esse espaço, representa um sentimento de luto. Um sentimento inexplicável. E para a comunidade em si, é uma perda muito grande, porque a gente gera renda local. Com nossos ensaios, a gente atrai turistas, atrai pessoas para dentro da comunidade para assistir esses ensaios.
ObjorC — Ainda vai ser um processo para se recuperar desse luto, não é?
Mestra Joana Cavalcante — Vai. Muito. A pandemia vai deixar marcas durante muitos anos pela frente. Para se refazer ainda vai demorar muito.
ObjorC — Falando nesse cenário de pandemia, como foi a adaptação das atividades do Baque Mulher e da Nação Encanto do Pina nesse período?
Mestra Joana Cavalcante — A gente se adaptou. Tá no deserto, tem que aprender a tomar água de cacto. A gente aprendeu a tecnologia, a fazer lives e estamos aí… Particularmente, eu gostei muito de fazer live show. A gente brinca aqui que se tivesse concurso de live, a gente seria campeão, porque nos adaptamos muito bem.
ObjorC — Com o retorno das festividades, o carnaval de 2023 deve ser realizado. O encanto do Pina e o Baque Mulher eles irão desfilar no próximo carnaval?
Mestra Joana Cavalcante — Como a gente vai se preparar para um carnaval se a gente ainda tá tentando sobreviver? Como? O poder público, os governantes, as secretarias, não dão base para a gente se preparar. As nações e agremiações estão sucateadas. Eu vi, logo no início da pandemia, mestres vendendo tambores para poder comer. Vi agremiações se desfazendo dos equipamentos, de roupas, pra poder comer. Que tenha o carnaval, que possamos retomar. Mas para as agremiações que fazem o carnaval, eu acho muito difícil poder ir pras ruas e mostrar os seus verdadeiros trabalhos, porque ainda estamos abandonados. Estamos sucateados.
ObjorC — Por fim, como é possível participar das oficinas?
Mestra Joana Cavalcante — Todos e todas são muito bem-vindos. A gente não cobra um cachê, ou um valor x para quem vem a uma oficina. Deixo à vontade para colaborar para a manutenção dos instrumentos que a gente dá às oficinas, para a água, para um lanche das crianças e é isso. As oficinas são abertas, tanto do Encanto do pina quanto do Baque Mulher. É só chegar e somar. É dentro da comunidade. Há quem venha, se apaixone, e fique. Há quem venha uma vez e não queira vir mais. Todos e todas são super bem-vindos.
–
Por: Beatriz Gomes; Giovanna Azevêdo; Sarah C. Firmino
Coordenação: Luís Adriano M. Costa
Maravilhosa! Nossa Mestra Joana nos inspira a continuar lutando contra as inúmeras opressoes sofrida por nós mulheres! Axé