Espaços que (R) existem!

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Equipe Objorc

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1 de outubro de 2018

“Em um lugar onde não há atividades culturais, a violência vira espetáculo.”

Esta frase de autoria desconhecida e que circula nas redes sociais, enfatiza o que muitas comunidades espalhadas pelo Brasil sofrem: a falta de acesso aos bens culturais. Não é difícil encontrar localidades que não possuem um cinema, um teatro ou sequer um recinto destinado ao fomento de manifestações culturais diversas e de atividades que contribuam com o desenvolvimento dos indivíduos. Porém, remando contra essa maré e buscando construir ambientes que democratizam o acesso a cultura, e principalmente, que os espetáculos que os jovens presenciem sejam apenas artísticos, coletivos e pessoas empenhadas em transformar realidades sociais desenvolveram espaços de promoção da cultura, educação e empreendedorismo em zonas de vulnerabilidade do Distrito Federal.

E é com o intuito de dar visibilidade a esses projetos e enfatizar que existe arte além das fronteiras do “Plano Piloto”, que uma equipe formada por cinco profissionais, entre eles, jornalistas e estagiários da empresa de comunicação Correio Brasiliense, elaborou uma série de sete reportagens após percorrer as regiões administrativas de Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas, Samambaia, São Sebastião, Planaltina e Gama.

A Cultura Livre foi disponibilizada na seção ‘especiais’ no site do Correio Brasiliense, em Janeiro de 2017. Todavia, mesmo tendo sido produzido há um tempo, trazer uma discussão acerca do amplo material torna-se relevante para refletirmos a forma como o jornalismo cultural vem sendo produzido, e nesse caso, nos apoiar em uma boa prática.

Ao ler a série de reportagens entramos em contato com realidades distintas, mas que se assemelham ao enxergar a cultura como mecanismo de transformação social. Percorrer o olhar pelas páginas recheadas de texto, imagens e vídeos nos permite conhecer pontos de cultura que buscam não só fomentar e manter as manifestações culturais em efervescência, mas também contribuir com a sustentabilidade, economia solidária e em despertar nos indivíduos o espírito empreendedor e a consciência política, como é o caso dos pontos de cultura Jovem de Expressão de Ceilândia; Casa Frida em São Sebastião; e Espaço Cultural Ubuntu, no Recanto das Emas.

Ao ler a série de reportagens entramos em contato com realidades distintas, mas que se assemelham ao enxergar a cultura como mecanismo de transformação social

As reportagens são elaboradas a partir das vivências dos indivíduos que residem nas comunidades, assim, não apresenta apenas os projetos sociais, mas traz um recorte de como eram as regiões antes da atuação dos pontos de cultura e as dificuldades em manter projetos independentes sem auxílio do poder público. Nesse sentido, as narrativas foram construídas a partir do relato das pessoas envolvidas nos projetos, como coordenadores, produtores, ministrantes de oficinas e o próprio público. A equipe de reportagem prezou por escolher pessoas que possuem propriedade para falar sobre o impacto dos projetos em suas comunidades, assim, respeitando os lugares de fala e contribuindo para amplificar as vozes de indivíduos que são, muitas vezes, invisibilizados pela grande mídia.

Dessa forma, ao ler a série, o público terá acesso a um conteúdo mais aprofundado, que considera causas e consequências dos fatos vinculando-os em seu contexto, assim, as narrativas não tratam os acontecimentos de forma imediata e superficial. Em relação à série, é importante ressaltar que o veículo de comunicação põe em destaque um outro lado do DF, aquele que está às margens do Plano Piloto, ressaltando a ineficiência do estado em garantir à população periférica o acesso aos bens culturais. Por outro lado, demonstra que apesar desses fatores que exprimem as desigualdades presentes na sociedade, há pessoas que enfrentam as adversidades e se unem para criar iniciativas que visam à mudança social.

Diante disso, as reportagens contribuem para fortalecer a importância que a cultura tem no desenvolvimento dos indivíduos e das comunidades. Além disso, ao visibilizar essas iniciativas populares, contribuem para a não estigmatização de determinadas comunidades, que são, rotineiramente, conhecidas apenas em páginas policiais. Podemos citar como exemplo, a reportagem que trata do Mercado Sul, em Taguatinga, outrora, um recinto de usuários de drogas e de prostituição, hoje, um espaço de economia criativa que se consolidou como um dos principais pontos de resistência do DF.

Vale ressaltar que dentre os projetos abordados, apenas um deles possui financiamento de órgãos ou instituições, é o caso do ponto de cultura “Jovem de Expressão”, desenvolvido em Ceilândia e que conta com o apoio da Caixa Seguradora. Os demais projetos buscam de forma independente e coletiva resistir às adversidades, desenvolver suas atividades e contribuir com o desenvolvimento das comunidades e das pessoas que as compõem.

A resistência, que é intrínseca ao trabalho dos sete pontos de fomento a cultura, torna-se evidente na Casa de Cultura Carlos Marighella, localizada na estância Mestre D’Armas, em Planaltina. A casa está apenas no imaginário dos idealizadores do projeto, Igor Diógenes Bezerra e Eduardo Roberto e da comunidade, visto que, materialmente, não existe. Na verdade, no lugar onde seria o ponto de cultura existe apenas uma placa em menção ao deputado constituinte Carlos Marighella (1911–1969), perseguido pela Ditadura Militar. Assim, as atividades de música, teatro e poesia, entre outras manifestações, são realizadas ao ar livre, em uma praça que só possui um chão batido, duas geladeiras com livros e a referida placa.

Nesse sentindo, o amplo material produzido pelo Correio Brasiliense, se estabelece como uma boa prática do jornalismo cultural, visto que, traz uma narrativa positiva sobre espaços que são estigmatizados e sobre seus atores sociais, mas não deixa de demonstrar a ineficiência do Estado em atender as zonas periféricas que precisam se organizar coletivamente na tentativa de modificar suas realidades. Além disso, fortalece a importância e o papel que a cultura e a educação têm de interferir positivamente no desenvolvimento dos indivíduos e de transformar realidades sociais, optando assim, por uma narrativa com enfoque cidadão.

Escrito por: Luana Gregório


O especial A Cultura Livre está disponível em:

http://especiais.correiobraziliense.com.br/a-cultura-livre

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